segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O que você deseja, ou, Seu corpo?!

Estava inclinado a desenvolver um texto sobre algo relacionado a gênero, tenho escutado muita coisas sobre isso ultimamente, inclusive bandas riot grrl nacionais. Mas acabei por tomar um rumo um pouco diferente, apesar da questão de gênero estar num sub-contexto das entrelinhas desse texto. 
Vou falar sobre o corpo, e se ele realmente nos pertence. Você considera-se dono de seu corpo? É uma pergunta, que parece à primeira vista, de resposta objetiva. Mas retendo questioná-la, não no caracter ontológico da coisa, passo do pressuposto de que nossos (esse "nossos" aqui já não representa um sinônimo de posse, é apenas referencial) corpos existem, e tudo mais que sentimos realmente existe. Fato!
Agora pensemos em nosso cotidiano, tudo que fazemos com eles. Nossas vontades impulsionam nossos corpos? Nem sempre, muitas vezes nossas vontade são derivadas de impulsos exteriores. Reagimos com nosso corpo em resposta ao corpo de outro, impulsos gerados por meios de comunicação de massa, etc.
Vejamos alguns pontos bastante "carregados". Analise-mos por exemplo a masturbação feminina, apesar de todo desenvolvimento e liberdade sexual alcançadas até o século 21, esse ponto ainda carrega um peso medieval, e já que fala-se em masturbação, pense em sexo e no números de vezes que limitamos nosso corpo, nossas vontades para com o corpo, pelos outros!? Pense em saúde pública, SUS, médicos etc. Eles opinam e decidem sobre seu corpo, que remédio tomar, o que comer, que exercício fazer. Aborto é proibido, suicídio é pecado, alto mutilação é coisa de gente louca, tatuagens e piercings e coisas do gênero ainda carregam uma boa dose de preconceitos. Quando foi a última vez que você tomou uma decisão importante sobre seu corpo?
Mesmo que sejam decisões consideradas por muitos como ruins, pense em drogas: ou elas são proibidas e de fácil acesso, ou são vendidas inadivertidamente em qualquer farmácia; cigarros hoje em dia são cada vez mais boicotados, logo logo as pessoas apenas poderão fumar as escondidas, como ocorre com algumas drogas hoje. Bebidas, esse é um caso a parte a pesar de várias recomendações com relação aos efeitos dela em menores de idade e motoristas, o povo precisa ficar ébrio, é uma solução do estado. Por falar nele, ele decide quase que exclusivamente o que podemos comer, que remédios podemos usar livremente, qual drogas somo proibidos de consumir, sem a devida receita, com suas secretárias e ministérios. O que vestimos é ditado por uma mão invisível que se propaga em ondas pelo ar, e aí daquele que as ignorar é praticamente excluído do meio social. E certamente vocês devem pensar em mais um zilhão de exemplos de posse!
Quando foi a última vez que tomou uma decisão importante sobre seu corpo, uma decisão realmente sua?
Eu sei a resposta para mim, é por isso que...
Eu Odeio Estar Aqui!

Som: Bulimia - Nosso corpo não nos pertence (... foi um som que me inspirou muito a escrever isso);

Livro: Neuromancer - Willian Gibson;
Filme: Irreversível  - IЯЯƎVƎЯSIBLƎ (um excelente filme de Gaspar Noé, que nos fornece algumas idéias sobre as conseqüências de nossas decisões sobre os corpos alheios...);

Maldição: o eterno ir e vir das coisas e pessoas me incomoda muito, a incerteza, o saber onde colocar os pés para evitar que o mundo desmorone abaixo deles...

Um comentário:

  1. Zeka!
    Compartilho em partes com o que escreves. Parece haver certa alienação (no sentido mais vulgar) das pessoas em relação aos gostos. Mas isto só faz os que percebem isto se distanciarem do próprio mundo. Aqueles que percebem, acabam não sendo bem-vistos. Entorpecer-se já é algo criminoso! Os valores mais uma vez ganhando da natureza.

    Abração!

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