sexta-feira, 14 de março de 2014

Síndrome Pan-Waits, ou, a besta comedora de nós mesmos que é a vida adulta


Durante  muito tempo guardei uma carta que escrevi quando tinhas algo entre 13 e 15 anos, ela estava endereçada à mim mesmo, só que com 30 anos!
E retirei ela do local onde ela sempre esteve, uma pasta velha e carcomida pela tempo, onde guardo uns trecos desse remoto tempo, a década de 90, e de outros tempos também!
É uma longa carta, com várias expectativas e esperanças, confissões (que nem lembrava mais), e o primeiro incrível aspecto, conselhos e recomendações de meu eu-de-quinze-anos para o meu eu-de-hoje. Alguns bastante esdrúxulos: não confie em alguém que não coma carne; não confie em alguém que não beba! Um outro tanto que não deveria ter esquecido, pois ainda são muito úteis.
Mas uma das considerações que mais te tocou, foi o fato de eu não esperar, ou querer, ser um adulto. Na época dei mil e uma razões para que isso não acontecesse, mas essas razões era mais coisas que adultos fazem/faziam/farão e que eu não gostaria de vir a fazer. Hoje com a carga obrigatória do aprendizado decorrente do tempo passante, sei, o que não sabia por não querer saber, que o recolher e carregar o fardo da responsabilidade é obrigatório!
Penso que muitas coisas que escrevi ali ficaram muito bem impressas em mim, até hoje, porque apesar de recolher e suportar esse fardo, acredito que me adaptei muito bem a ele. Não sou/fui/serei uma pessoa consideravelmente responsável, é um título muito honrável para que possa tê-lo. Lido com os aspectos da vida adulta me agarrando com todas as forças a um ideal remanescente da adolescência de mudança de mundo! Em vão! Obviamente que sim, mas é esse pequena remanescência é que faz me manter no que acredito ser o caminho certo, extirpando ou diminuindo a influência dos valores impostos pela vida adulta na minha vida!
Maturidade é um conceito muito complexo, penso-o assim pelo menos, para ser concebido e aplicado no nosso cotidiano. Parece um lance esquisito que é depositado nos outros, que por sua vez ficam esperando que você faça algo que eles, igual ou extremamente parecido, faziam/fariam/farão, e assim ela vai passando como um vírus, um traço genético, ou algo assim. Maturidade é algo que existe por aí, todo mundo finge que usa, ninguém sabe para que serve, mas é muito útil porque continua fazendo o mundo ser da forma que ele é! NOOOOSSA que coisa incrível!!
Até hoje também não sei o que é ser, ou vir a ser, um adulto. Não consigo defini-lo, delimita-lo, conceituá-lo, mas o pouco que sei sobre eles, me faz querer estar bem longe. A ganância que move o mundo, a gula que alimenta toda essa obesidade de idéias que nos cerca, a obesidade que nos faz assim tão impotentes, esse (desculpe as feministas) pau-molismo moral!
Obviamente sei que nem todos adultos os são dessa forma monstruosa, mas infelizmente, de quem são as mãos que andam manipulando as cordas das marionetes, que somos todos nós, homens vulgares?!?
O que sobra de toda essa demência, essa síndrome de Pan-Waits, é um apego a ideais que podem ser considerados ultrapassados, uma raiva/ódio contra um mundo que não da mínima, mas também um potência que faz com que ele não me coma vivo todas as vezes que o sol nasce...
No fim, acredito essa potência, que as vezes falha, e quando falha, o fardo da vida torna-se mais difícil de ser suportado, recebeu um bom turbo, pois agora sei que vim a ser uma pessoa quem meu eu-de-quinze-anos teria muito orgulho de vir-a-ser!
No entanto, temos um mundo largamente habitado por seres-humanos adultos, maduros e responsáveis, e é por isso que...
Eu odeio estar aqui!!


Música: Pitty e Thunder Bird - Eu não quero crescer (Eu não quero me decepcionar, eu não quero entristecer, eu não quero crescer...);
Livro: Cogumelos ao Entardecer - Jonatas Tobias (é uma estória muito boa sobre os prazeres da infância contra as adversidades (metafóricas) da vida adulta);
Filme: What's Eating Gilbert Grape - Gilbert Grape aprendiz de sonhador (maturidade, vida adulta, rebeldia, tudo isso num roteiro e atuações fantásticas);